quarta-feira, agosto 22, 2007

REBELDES SEM CAUSA


Se ele à coisa que me irrita são os jovens armados em vítimas. Não tenho nada contra os jovens, que se note, irritam-me é aqueles que acham que a sociedade não os entende, que os rejeita, que os anula, enfim, que não compreende a sua rebeldia. Viva a rebeldia da juventude. O problema é que a grande maioria dos jovens não sabe ser rebelde. Assim como não sabe viver em liberdade. Há uma diferença abissal entre liberdade e libertinagem. Entre ser rebelde e ser anárquico. A maioria intitula-se rebelde quando na verdade é anárquico. Não gozam a liberdade, antes são libertinos perante a sociedade. Não respeitam os outros, e a falta de respeito é muito grave para quem quer viver em comunidade. E é por isso que se isolam aos pares, em grupos que tem o mesmo lema de vida: ser contra tudo e todos sem fundamentos para tal.

Intitulam-se defensores da natureza. São contra a violência. Espírito Zen, entre muitos outros conceitos que desconhecem em absoluto. São de modas, algumas delas já ultrapassadas. Os hippies foram importantes na sua época, e continuariam a sê-lo caso a filosofia subjacente a este movimento estivesse lá na sua essência mais pura. Hoje têm outra designação. Estão camuflados entre roupas coloridas, em palavras estranhas, em estilos de música que pouco mais têm que barulho, tudo isto envolto em fumos, muitos fumos, e velas aromáticas. Só lhes falta as flores no cabelo, substituídas por rastas e térérés.

A sua ausência de violência é falsa. São violentos para os que são diferentes. Criticam-nos por seguirem regras sociais, provando a sua pseudo-tolerância e falta de inteligência para perceber que todos os seres têm direito à sua liberdade de escolha. Admito que também eles sejam vítimas de intolerância, porque o são, e não raras vezes. Mas quem os exclui, quem os critica não afirma ser tolerante, nem faz questão de ser politicamente correcto. Não gosta e não esconde.

Detesto pessoas intolerantes, mas nem sempre a tolerância parece ser suficiente para estas espécies raras. Tento entendê-los, mas não consigo. Não tem a ver com a maneira de vestir, ou da forma como tratam o cabelo e muito menos de serem rebeldes. Chateia-me sim, é que sejam rebeldes sem causa. Que sejam anárquicos mas não dependentes dos pais, e de quem deles toma conta. Esses têm que os entender. Então e eles, não terão o mesmo dever perante a sociedade? Pelos vistos, não.

sexta-feira, agosto 03, 2007



Há dias, vendo fotografias antigas, dei por mim a recordar alguns episódios da minha infância. Das férias grandes passadas com os meus primos do Porto, que ansiava a partir do dia em que eles abalavam. Cheguei à conclusão que tive uma infância feliz. Mesmo sem ser na sua companhia. A ingenuidade tem destas coisas. A particularidade de nos fazer ver a vida na sua simplicidade. Deixamos de ser tão felizes quando, por razões várias, a começamos a complicar. Quando nos questionamos sobre o que nos rodeia sem a ingenuidade de outrora. Dizemos: não pode ser assim tão simples a explicação porque a vida não nos corre como nós gostaríamos. Na verdade, os motivos são simples. Nós, amadurecidos e vazios de simplicidade, é que fazemos das respostas um bicho de sete cabeças. E não nos deitamos de cabeça, sem olhar para trás, naquilo que ansiamos porque a vida deixou de ser simples. Há demasiadas coisas a rodear-nos. Coisas que nos fazem estar de pé atrás. Coisas que nos fazem recuar. Ficamos presos às ideias concebidas por quem governa o mundo. Por quem dita as leis sociais. Provavelmente, pessoas que não conseguiram realizar os seus sonhos. E, por esse motivo, fazem-nos sentir culpados por queremos, com todas as nossas forças, agarrar aquilo em que acreditamos. E nós, amadurecidos e vazios de simplicidade, agarrados às tais ideias, vamos passando pela vida sem a viver.

Triste não é ser surdo, é ouvir mas não saber escutar. Não é ser mudo, é falar sem comunicar. Não é ser cego, é ver sem olhar. E todos nós, uns mais outros menos, temos todos esses defeitos. Não damos importância às pequenas coisas. Esquecemo-nos de escutar, de comunicar e de olhar para quem passa por nós. Esquecemo-nos de nós mesmos, pelos mesmos motivos.

Ao ver as fotos recordei alguns episódios da minha infância, e percebi que aqueles que me faziam feliz com a sua presença estão cada vez mais afastados. Amadurecemos. Infelizmente, amadurecemos. Restam-nos as fotografias para recordar tempos idos. Para recordar que já fomos felizes como, provavelmente, nunca mais iremos ser. Não daquela maneira.

É por isso que hoje, e amanhã, e depois de amanhã, e todos os dias da minha vida, vou tentar regressar à inocência, nem que seja por breves momentos. Fazer uma loucura, sem consequências, e rir-me dela. Meter o dedo no nariz e fazer bolinhas pequeninas e verdinhas com o que conseguir encontrar lá dentro. Beber um sumo por uma palhinha e soprar até o líquido vazar do copo. Comer um gelado e ficar toda lambuzada. Mexer na terra e sujar as unhas. Brincar ao Espaço 1999 e à Heidi. Deitar-me na cama e dormir descansada à espera de um novo dia.