sexta-feira, agosto 03, 2007



Há dias, vendo fotografias antigas, dei por mim a recordar alguns episódios da minha infância. Das férias grandes passadas com os meus primos do Porto, que ansiava a partir do dia em que eles abalavam. Cheguei à conclusão que tive uma infância feliz. Mesmo sem ser na sua companhia. A ingenuidade tem destas coisas. A particularidade de nos fazer ver a vida na sua simplicidade. Deixamos de ser tão felizes quando, por razões várias, a começamos a complicar. Quando nos questionamos sobre o que nos rodeia sem a ingenuidade de outrora. Dizemos: não pode ser assim tão simples a explicação porque a vida não nos corre como nós gostaríamos. Na verdade, os motivos são simples. Nós, amadurecidos e vazios de simplicidade, é que fazemos das respostas um bicho de sete cabeças. E não nos deitamos de cabeça, sem olhar para trás, naquilo que ansiamos porque a vida deixou de ser simples. Há demasiadas coisas a rodear-nos. Coisas que nos fazem estar de pé atrás. Coisas que nos fazem recuar. Ficamos presos às ideias concebidas por quem governa o mundo. Por quem dita as leis sociais. Provavelmente, pessoas que não conseguiram realizar os seus sonhos. E, por esse motivo, fazem-nos sentir culpados por queremos, com todas as nossas forças, agarrar aquilo em que acreditamos. E nós, amadurecidos e vazios de simplicidade, agarrados às tais ideias, vamos passando pela vida sem a viver.

Triste não é ser surdo, é ouvir mas não saber escutar. Não é ser mudo, é falar sem comunicar. Não é ser cego, é ver sem olhar. E todos nós, uns mais outros menos, temos todos esses defeitos. Não damos importância às pequenas coisas. Esquecemo-nos de escutar, de comunicar e de olhar para quem passa por nós. Esquecemo-nos de nós mesmos, pelos mesmos motivos.

Ao ver as fotos recordei alguns episódios da minha infância, e percebi que aqueles que me faziam feliz com a sua presença estão cada vez mais afastados. Amadurecemos. Infelizmente, amadurecemos. Restam-nos as fotografias para recordar tempos idos. Para recordar que já fomos felizes como, provavelmente, nunca mais iremos ser. Não daquela maneira.

É por isso que hoje, e amanhã, e depois de amanhã, e todos os dias da minha vida, vou tentar regressar à inocência, nem que seja por breves momentos. Fazer uma loucura, sem consequências, e rir-me dela. Meter o dedo no nariz e fazer bolinhas pequeninas e verdinhas com o que conseguir encontrar lá dentro. Beber um sumo por uma palhinha e soprar até o líquido vazar do copo. Comer um gelado e ficar toda lambuzada. Mexer na terra e sujar as unhas. Brincar ao Espaço 1999 e à Heidi. Deitar-me na cama e dormir descansada à espera de um novo dia.

3 Comments:

Blogger bitter-sweet said...

Somos demasiado complexos para a simplicidade...

Mas é exactamente nos pormenores e nesses breves momentos que reside a tal felicidade.

terça-feira, agosto 07, 2007 5:59:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Já nem sei bem como aqui vim parar... mas gostei muito deste texto!! Tinha de o dizer... :)

segunda-feira, agosto 27, 2007 7:34:00 da tarde  
Blogger sissi said...

compreendo este desabafo, adorava voltar a ser inocente e acreditar nos outros, e até em mim própria.

terça-feira, setembro 04, 2007 12:51:00 da manhã  

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