terça-feira, maio 19, 2009

AMIZADE


A maior falta de pontualidade é chegar tarde aos amigos. Li esta frase algures. Há muitos anos. Sei que é do livro “O Principezinho”, de Antoine de Saint-Exupéry. Nunca mais a esqueci. Talvez porque preze a amizade acima de todos os outros sentimentos e a considere a base de todas as relações. Não existe verdadeiro amor sem amizade. Sim, porque há diversos tipos de amor. Ou talvez não. Não se ama por sexo. O amor é desinteressado. O verdadeiro, entenda-se. E como verdadeiro que é não sobrevive sem amizade. Nem tão-pouco sem a confiança. Quem ama confia. Mas será que todas as pessoas são dignas dessa confiança? Só as que amam verdadeiramente. E como sabemos que o amor é verdadeiro? Quando vemos com a razão e não com o coração. Esse é traiçoeiro. Vive cego e ignorante. Conscientemente cego e ignorante.
Quem o feio ama bonito lhe parece, diziam os antigos. Nisso tinham a sua razão. Quer-me parecer que quem terá disto estas sábias palavras sofreu um desgosto de amor. Daqueles que nos tiram o sono, o apetite, a concentração…a vontade de viver. Mesmo quando nos damos conta que o bonito que amávamos era, de facto, feio. Que aquela pessoa que nos tira o sono, o apetite, a concentração…a vontade de viver, não foi mais que uma ilusão óptica. E que agora nos tira o sono, o apetite, a concentração…a vontade de viver porque nos sentimos enganados. Envergonhados pela nossa cegueira. Feridos no orgulho. Cegos de ódio. Lamentamos as lágrimas chorando pela perda jurando que tal não volta a acontecer.
Sentimos a confiança traída. A confiança de que apenas são dignos os que amam verdadeiramente. E amar é gostar. Gostar muito. Gostar ao ponto de nos esquecermos de nós. E quando nos lembramos da nossa existência, pensamos que de nada vale. Tudo porque quem amamos assim nos faz pensar. Damos-lhe razão porque as amamos. Continuamos cegos. À espera. À espera que nos façam acreditar no contrário. Que somos importantes nas suas vidas. O coração não nos deixa ver a realidade. Deixa-nos num estado de inércia mental em que tudo é contrário ao que, de facto, é. Amor é amizade. E partilha. Partilhar é confiar. Não tudo. Todos temos direito aos nossos segredos. E todos os segredos deixam de o ser quando contados a outra pessoa. Os segredos formam a nossa identidade. Aquilo que nós sabemos de nós próprios e não queremos partilhar com ninguém. Isso não nos impede de amar. Ser amigos. Partilhar a nossa vida com alguém. Tê-los nas suas vidas.
Quando isso não existe…nada mais nos resta que dizermos adeus. E esperar que a desilusão se vá desvanecendo como nevoeiro sob a forte luz de um sol de Verão.